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03. Acção Militante
"Estamos em 1956, um ano extraordinário no Mundo, entre o Congresso de Escritores e Artistas Negros, o relatório Krouschev, o famoso relatório Krouschev – ou, para os comunistas, o relatório atribuído a – os acontecimentos na Polónia, além, evidentemente, do acesso de alguns países africanos que estão na véspera de ascender à independência, as acções no Gana e na Nigéria, a luta no Quénia, dos Mau-Mau, a Ásia, as primeiras guerras na Indochina, toda essa agitação no mundo dos oprimidos, no mundo afro-asiático, a agitação dos espíritos no Bloco de Leste, a desestalinização, todos esses acontecimentos agem também nas nossas mentes."
"Não estamos indiferentes aos avanços do Mundo e aos nossos próprios países. Mas as nossas organizações eram extremamente frágeis, pela fragilidade intrínseca desses movimentos, a repressão de que são vítimas – muitos dos actores dirigentes estão presos em Lisboa. Foi então necessário conceber uma forma de organização unitária, capaz de isolar o colonialismo português, criar aliados e, pela agitação externa, reforçar as organizações internas. Aliás, devo dizer que, depois da criação do PAI, em 56, por Amílcar e um pequeno grupo e de várias organizações angolanas – para falar do caso angolano – Viriato Cruz teve de sair de Angola e veio a Paris, após uma passagem rápida por Lisboa, aumentar o número de jovens intelectuais e políticos de Paris."
"E em 1957, com a presença de Amílcar Cabral, Guilherme Espírito Santo, Marcelino dos Santos, Viriato da Cruz e eu próprio, fazemos o primeiro balanço do estádio da luta anti-colonial, o estádio da luta em cada um dos nosos países. (…) E nessa reunião, apelidada, na nossa História, de "Reunião de Consulta e Estudo sobre a Luta contra o Colonialismo Português", fazemos essa análise global de cada um dos nossos países e tomamos grandes decisões. Mas essa análise pecou por mimetismo, o mimetismo ideológico de que padecíamos todos, pelas nossas leituras – leituras breves, pouco aprofundadas e não aferidas pelo real, o real social de cada um dos nossos países e, como todos os comunistas do tempo, estávamos dominados pela pesquisa do proletariado. Tínhamos de encontrar, em cada um dos 5 países, o proletariado – que, na visão do momento, era o único motor da luta. Esse messianismo proletário revelou-se inoperante, porque era um proletariado inexistente, cujos contornos não estavam definidos pela estrutura sócio-económica de cada um dos nossos países e esse proletariado não foi o motor da luta de libertação."
"Decidimos criar um Movimento de Libertação das Colónias, MAC – designação que não reflectia a riqueza da nossa reflexão, a realidade dessa reunião – Movimento Anti-Colonial."
"Entretanto, houve uma dispersão. Se alguns se mantiveram em Paris, como Marcelino dos Santos e eu próprio – Marcelino entretanto foi fazer um curso, mas vivia na Europa – Amílcar volta a Lisboa, com viagens à Guiné e missões agronómicas a Angola, continuando a agitar o interior. Havia portanto agitação no interior e no exterior."