O arquivo de Mário Neves é constituído por documentação a si pertencente, bem como relativa a seu pai, Hermano Neves, e ao seu avô, António Joaquim das Neves.
A larga dimensão deste acervo, e o facto de a sua documentação ter sido reunida, ao longo de décadas, por três gerações da mesma família, permite que nele se encontrem documentos de grande diversidade, abrangendo correspondência, recortes e imprensa, apontamentos e documentação pessoal e familiar, além de documentos relacionados com as atividades profissionais de Mário Neves, Hermano Neves e António Joaquim das Neves.
Possui um conjunto bastante significativo de correspondência anterior e posterior ao 25 de Abril de 1974, maioritariamente dirigida a Mário Neves e a seu pai. No que respeita a Mário Neves, a documentação ilustra a sua extensa atividade enquanto jornalista, publicista, conferencista, além do papel desenvolvido em funções políticas, como sejam as de Secretário de Estado da Emigração e Embaixador de Portugal na URSS, ou nos cargos que ocupou na Associação Industrial Portuguesa, no Instituto Português de Oncologia e de membro de diversas associações.
O núcleo pertencente a Hermano Neves contém, além de correspondência, diversa produção jornalística e artística, propaganda e imprensa republicana.
No que se refere a António Joaquim das Neves, a documentação incide sobretudo na sua atividade como professor.
O acervo contém ainda uma coleção fotográfica sobre a Roça Rio do Ouro, em São Tomé, ou a Revolta da Madeira de 1931, entre outras temáticas, sendo que a maior parte corresponde à primeira metade do século XX.
Fundação Mário Soares e Maria BarrosoJornalista, publicista e embaixador.
Mário Viçoso das Neves nasceu em Lisboa, a 18 de janeiro de 1912. Filho de Hermano Neves e de Evangelina Viçoso, tendo sido educado por Albertina Moreira Rato da Cunha Neves.
Quando o seu pai faleceu, Mário Neves tinha 17 anos, encontrando-se no penúltimo ano do curso de liceu. Optou por se empregar no jornal O Século para assegurar a sua formação, onde se conservou até 1933. Posteriormente, ingressou no Diário de Lisboa, fazendo parte da redação deste jornal entre 1931 e 1967 (diretor-adjunto desde 1958). Em maio de 1945, fundou com José Ribeiro dos Santos a revista Ver e Crer. Em 1968 foi um dos fundadores do jornal A Capital (2.ª série), onde exerceu o cargo de diretor-adjunto até 1971, ano em que abandonou a profissão.
Correspondente na Guerra Civil Espanhola, Mário Neves assistiu à chacina que as tropas falangistas de Franco infligiram à população desta cidade, experiência que relatou no livro “A Chacina de Badajoz”.
Em 1932 assumiu a direção dos serviços de Publicidade e Propaganda do Instituto Português de Oncologia visando a intensificação da luta contra o cancro. Fundou o boletim do mesmo instituto. Foi também nomeado secretário da comissão incumbida de constituir os hospitais escolares de Lisboa e Porto. Nessa qualidade secretariou a missão de estudo chefiada por Gentil Martins a quase todos os países da Europa em 1935.
Em 1937 obteve o grau de bacharel em Direito na Universidade de Lisboa, vindo a concluir mais tarde a respetiva licenciatura. Nesse ano realizou uma viagem aos Estados Unidos, visando o estudo do desenvolvimento da propaganda contra o cancro, da administração hospitalar e de construção de hospitais. Posteriormente foi convidado para administrador do Instituto Português de Oncologia (julho de 1938), demitindo-se em julho de 1948. Foi também secretário-geral da Liga Contra o Cancro.
Ingressou nos quadros da Associação Industrial Portuguesa, como chefe dos Serviços de Propaganda Económica, e, após a criação do cargo de diretor-geral, como seu primeiro titular, até 1972. No âmbito do seu trabalho na AIP organizou a Feira das Indústrias Portuguesas (1949-1959) e posteriormente a Feira Internacional de Lisboa, como Comissário-Geral e, nos últimos anos, como vice-presidente. Coordenou as feiras industriais de Goa (1952), Guimarães (1953), Luanda (1954) e Lourenço Marques (1956). Foi Comissário-adjunto da representação portuguesa na Exposição de Bruxelas em 1958. Participou ativamente na União das Feiras Internacionais, como membro e presidente da respetiva Comissão Técnica, integrando a delegação que protagonizou a negociação da integração dos soviéticos naquele organismo internacional.
Em 1974, após o 25 de Abril e o estabelecimento das relações luso-soviéticas, foi o primeiro embaixador de Portugal na URSS, onde permaneceu até 1977, período em que exerceu também o cargo de embaixador não residente na Mongólia e na Coreia do Norte.
De regresso a Portugal, presidiu à Comissão do Livro Branco dos Negócios Estrangeiros, cargo que abandona em 1982 por ter atingido o limite de idade, aposentando-se pouco tempo depois.
Foi titular da Secretaria de Estado da Emigração do V Governo Constitucional (Dec. n.º 91-A/79). Integrou a Comissão do Ministério dos Negócios Estrangeiros para estudar o desenvolvimento das relações económicos com a URSS, tendo sido ainda o signatário do Acordo de Navegação Mercante Luso-Soviética.
Em 1985 foi incumbido do cargo de orador oficial da sessão solene das comemorações do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. É galardoado, de entre outras condecorações, com as comendas da Ordem da Liberdade, da Ordem da Coroa da Bélgica, da Ordem do Mérito Industrial, do Cruzeiro do Sul do Brasil e com os títulos de Grande Oficial da Ordem Nacional de Mérito de França e da Ordem de Mérito da República Federal da Alemanha.
Morreu em Lisboa, a 1 de janeiro de 1999.
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