O arquivo de Carlos Antunes e Isabel do Carmo é constituído, na sua maioria, por documentação referente à oposição ao Estado Novo entre o final da década de 1960 e o 25 de Abril de 1974, e ilustra uma parte importante do percurso político de Carlos Antunes e de Isabel do Carmo.
Nele se encontram, a título de exemplo, boletins e panfletos de organizações estudantis (entre as quais diversos boletins do Secretariado dos Encontros dos Estudantes Portugueses no Estrangeiro), bem como documentação relacionada com os presos políticos. O arquivo inclui também documentação relativa à Frente Patriótica de Libertação Nacional, de movimentos de católicos e de outros sectores da sociedade portuguesa (como é o caso dos médicos, ou do movimento feminino) no quadro da oposição ao regime, bem como um dossier sobre as eleições para a Assembleia Nacional em 1969. Destacam-se ainda os documentos relacionados com a atividade da Rádio Portugal Livre, os documentos relativos à actividade do Partido Comunista Português, e de diversos movimentos de solidariedade internacional. Este arquivo inclui igualmente alguns títulos de imprensa clandestina, como o jornal Avante! e O Camponês.
Consta deste acervo um conjunto de documentos relacionados com a fundação das Brigadas Revolucionárias em Paris, no início de 1970, e duas colecções de jornais, o Revolução, porta-voz do Partido Revolucionário do Proletariado-Brigadas Revolucionárias, dirigido por Isabel do Carmo, e o Página Um, ambos impressos após o 25 de Abril, bem como um conjunto de cartazes deste partido.
Associação MemoriandoFundação Mário Soares e Maria BarrosoCarlos Antunes nasceu em 1940 na aldeia de São Pedro, no distrito de Braga.
Prosseguiu os estudos nessa cidade e aderiu aos 15 anos ao Partido Comunista Português, no Porto. Responsável pela organização do partido na região do Minho, passou à clandestinidade em 1959, em Lisboa, como funcionário do Secretariado do Comité Central.
Em 1963 partiu para a Roménia, onde se tornou membro da direção da Rádio Portugal Livre, e onde permaneceu até se mudar para Paris. Instalou-se clandestinamente na capital francesa no final de 1966 e assumiu a responsabilidade pela organização do Partido Comunista Português no estrangeiro.
Trabalhou com o Secretário-Geral do PCP Álvaro Cunhal na reorganização do partido, mas a partir de 1968, na sequência da chegada de Marcelo Caetano ao poder, as divergências entre ambos levaram à sua cisão.
Juntou-se, em 1969, com o grupo de dissidentes do PCP que iria estar na origem das Brigadas Revolucionárias, altura em que conheceu Isabel do Carmo, corresponsável por esta organização.
Regressou a Portugal no início da década de 1970 onde coordenou clandestinamente a ação das Brigadas Revolucionárias, que liderou até 1974.
Em 1973, após a cisão com a Frente Patriótica de Libertação Nacional, participou na criação do Partido Revolucionário do Proletariado, com Isabel do Carmo, com quem dirigiu o jornal "Revolução" (1974-1977) e o jornal "Página Um" (1976-1978). Foi preso no dia 20 de junho de 1978, juntamente com outros militantes do partido, entre os quais Isabel do Carmo, esteve preso preventivamente entre 1978 e 1982, tendo sido julgado e absolvido cinco anos após a sua libertação.
Foi um dos organizadores do Seminário sobre a luta armada em Portugal entre 1926 e 1974, no Museu da República e Resistência, em Lisboa. Em 1990 editou, em co-autoria com Isabel do Carmo e Francisco Costa Gomes, o livro “Ecossocialismo – Uma alternativa verde para a Europa”.
Em abril de 2014, estreou no filme "Outra Forma de Luta", do realizador João Pinto Nogueira.
Morreu a 23 de janeiro de 2021.
Maria Isabel Augusta Cortes do Carmo nasceu no Barreiro, distrito de Setúbal, a 9 de dezembro de 1940.
Iniciou a colaboração com o MUD Juvenil aos 15 anos. Em 1958, participou na candidatura de Arlindo Vicente à Presidência da República. Um ano depois entrou para o Partido Comunista Português, onde foi membro da direção do Sector Universitário e da organização comunista dos médicos, na clandestinidade. Licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa.
Em 1969 foi membro da Comissão política das Comissões Democráticas Eleitorais de Lisboa. Foi, também, no ano de 1969 que rompeu com o PCP. Permaneceu em Paris, entre outubro de 1969 e março de 1970, onde fundou as Brigadas Revolucionárias, juntamente com Carlos Antunes.
Em 1970, foi excluída de assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa, por ordem da PIDE, embora tenha continuado a desempenhar esse cargo secretamente e sem remuneração, sob a guarida do professor Ducla Soares. Em 1971 e 1972 organizou, com outros militantes, as Comissões de Base Socialistas. Foi membro da Comissão Pró-Associação de Medicina, durante quatro anos, e dos Corpos Gerentes da Ordem dos Médicos até 1972, tendo sido presa na sequência de um texto sobre a morte de Ribeiro Santos, que levou ao encerramento da Ordem pela PIDE.
Em 1973, fundou, com Carlos Antunes, o Partido Revolucionário do Proletariado. Diretora do Jornal “Revolução” entre junho de 1974 até 1978. Integrou os Grupos de Unidade Democrática (GDUP’s) para a eleição de Otelo em 1978. Foi presa no mesmo ano, juntamente com Carlos Antunes, no âmbito do “processo PRP”, e foi julgada em 1980 no Tribunal da Boa Hora, em Lisboa, saindo em liberdade em 1982. Foi membro da Comissão Pró-Amnistia Otelo e companheiros, criada em 1985, e pertenceu aos corpos gerentes da Associação Abril, na sequência da candidatura de Maria de Lurdes Pintassilgo às presidenciais de 1986.
Doutorou-se pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Foi uma das fundadoras da Sociedade Científica Núcleo de Doenças do Comportamento Alimentar.
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Integralmente tratado