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Rodrigo José Rodrigues
Arquivo constituído por uma diversidade de documentos relativos à carreira profissional e percurso político de Rodrigo Rodrigues, desde os finais da Monarquia até à Ditadura Militar, decorrida em Portugal e nas colónias (particularmente na Índia e em Macau). Inclui ainda inúmeros manuscritos literários, filosóficos, históricos e políticos de Rodrigo José Rodrigues, alguns dos quais de carácter autobiográfico, e projetos para livros, que permaneceram inéditos e em rascunho, ou que apenas em parte foram sendo publicados na imprensa.
No que respeita à documentação relacionada com os diversos cargos públicos que Rodrigo Rodrigues desempenhou, salienta-se um conjunto significativo de correspondência do período em que foi ministro do Interior (1913-1914), relacionada com um inquérito ordenado à propaganda sindicalista e movimento grevista em várias regiões do país, bem como informações de várias entidades acerca de movimentos conspirativos, tanto monárquicos como de outros grupos republicanos que se opunham ao governo do Partido Democrático.
Incluem-se ainda neste arquivo correspondência diversa e de significativa riqueza para o estudo da história da República e da Ditadura Militar, remetida por diversas personalidades, como sejam Afonso Costa, Bernardino Machado, José da Costa Nunes (bispo de Macau), José Leite de Vasconcelos, Norton de Matos, entre outras.
No que se refere à atividade literária e aos numerosos manuscritos de Rodrigo Rodrigues, devem ser salientados dois conjuntos que estiveram na base de projetos para duas obras que o autor pretendia vir a publicar. O primeiro, sob a designação geral de "Farrapos de Memória", que o autor possivelmente projetava publicar em vários volumes, contém manuscritos e documentos avulsos que foram coligidos sobre diversos episódios e figuras históricas do período da República e da Ditadura Militar. Entre estes textos, encontram-se temáticas como a organização do primeiro ministério exclusivamente formado por elementos do Partido Democrático, a história da sua organização clandestina designada por "Formiga Branca", e ainda o contexto da participação de Portugal na I Guerra, com registo de acontecimentos que precederam o golpe sidonista.
O segundo, designado por "Uma Época", inclui apontamentos e rascunhos de textos, correspondência, recortes de imprensa, etc., que fazem parte de um projeto para publicação de um livro, em dois volumes, relacionados com a génese do movimento de 28 de Maio de 1926 e o subsequente regime de ditadura, que também permaneceu inédito. O primeiro volume desta obra, do qual foram preparadas algumas versões, é dedicado a Gomes da Costa e à sua carreira militar e política, incluindo a sua participação na I Guerra Mundial, as suas atividades nas colónias (nomeadamente no que respeita ao seu plano colonial para o Oriente), bem como o seu papel no golpe de 28 de Maio. Inclui, além de textos de Rodrigo Rodrigues, vários documentos que foram coligidos para a preparação do livro, designadamente correspondência original de Gomes da Costa dirigida a Rodrigo quando este foi Governador de Macau, entre outros originais e materiais de apoio e contextualização. O segundo volume, contudo, pouco passou de projeto e da fase de recolha de alguma documentação com vista à sua elaboração. Refira-se também vária documentação reunida por Fernando Rau, genro de Rodrigo José Rodrigues, composta por várias notas biográficas sobre este, recortes de imprensa e correspondência alusiva ao seu falecimento. Fernando Rau terá sido frequentemente consultado por Rodrigo Rodrigues nos últimos anos da sua vida, no que respeita à preparação das suas memórias e projetos para a sua publicação.
Após a morte de Rodrigo, Fernando Rau terá ainda tentado concretizar este objetivo. É nítida a sua intervenção no espólio, no sentido de organizar os manuscritos, agrupando-os muitas vezes tematicamente, e deixando o seu cunho em vários apontamentos, quer sobre os próprios originais de Rodrigo Rodrigues, quer em folhas avulsas e capilhas que elaborou para agrupar os vários textos e documentos.

Instituição
Fundação Mário Soares e Maria Barroso

Nota biográfica/Institucional
Militar, médico e político.
Rodrigo José Rodrigues nasceu em Britelo, Celorico de Basto, a 28 de setembro de 1879. Filho de Daniel José Rodrigues e de Maria Elisa da Cunha Rodrigues.
Concluído o curso liceal em Lamego, ingressou na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, alcançando o bacharelato em Medicina, em 1902.
Seguiu a carreira de oficial do Exército e foi médico militar do Quadro Colonial, com serviços prestados em Cabo Verde (1903) e na Índia (1904-1910).
Desempenhou também os cargos de reitor do Liceu de Goa e de professor da Escola Médica local. Dirigiu também o Instituto de Análises e Vacinas de 1906 a 1908.
Após a implantação da República foi nomeado diretor da Penitenciária de Lisboa, desempenhou funções de vogal do Conselho Colonial, entre 1912 e 1919, e ainda de inspetor das Escolas Primárias Superiores.
No domínio político, manteve sempre a sua filiação no Partido Republicano Português e uma estreita ligação com Afonso Costa, tendo sido membro da Liga Académica Republicana.
Em 1911 foi governador civil de Aveiro e do Porto, e, em 1913, eleito deputado pelo círculo desta última cidade. Sobraçou a pasta de ministro do Interior, entre 9 de janeiro de 1913 e 9 de fevereiro de 1914, no ministério presidido por Afonso Costa. Foi durante esse período que ocorreu a criação da chamada "Formiga Branca", organização semi-clandestina do Partido Democrático, que terá tido como um dos principais mentores Daniel Rodrigues, governador civil de Lisboa e irmão de Rodrigo José Rodrigues. Durante o seu ministério foi também levado a cabo, em diversos distritos do país, um extenso inquérito à propaganda sindicalista, como forma de identificar potenciais agitadores que colocassem em risco o governo do partido democrático, bem como a segurança dos seus líderes.
Terminada a atividade governamental, Rodrigo Rodrigues regressou ao parlamento, representando os círculos de Faro (1915), Lisboa Ocidental (1921) e Lisboa Oriental (1922).
Em 1918, na sequência do golpe de Estado que levou ao poder Sidónio Pais, foi preso, sendo detido numa das celas da Penitenciária, que ele próprio dirigia, acabando depois exonerado do seu cargo. Após o sidonismo desempenhou em 1919 as funções de diretor geral das prisões. Foi ainda professor de Higiene e Médico Escolar da Escola Primária Superior de Amarante.
Dada a sua larga experiência no domínio colonial, viria ainda a ser Governador de Macau, entre 1922 e 1924, e delegado de Portugal na Conferência do Ópio de Genebra (1924). Ocuparia depois o cargo de secretário da delegação portuguesa à Sociedade das Nações, entre 1925 e 1927, em Genebra.
Já em plena Ditadura Militar, após regressar de Genebra, foi colocado como chefe da 2ª Repartição da Direcção Geral de Belas Artes, mas acabou sendo demitido das funções públicas em 1928.
Autor de diversas obras, colaborou igualmente em vários periódicos, sendo de salientar a publicação de alguns episódios das suas memórias no jornal República, durante os anos de 1950.
Morreu em Oliveira de Azeméis, a 19 de janeiro de 1963.

Dimensão
12 unidades de instalação

Estado de Tratamento
Integralmente tratado