Fazem parte desta coleção bustos, bandeiras, fotografias, postais, gravuras e ilustrações diversas, selos, moedas e medalhas, além de numerosos objetos de variado uso. Cada um dos espécimes que a integram constitui uma inesgotável fonte de informação da mais variada natureza, desde a sua conceção, produção e utilização, até aos acontecimentos e personalidades que evocam, mostrando aspetos até aqui quase desconhecidos da nossa vida coletiva do primeiro quartel do século XX.
É uma coleção política, de cariz essencialmente republicano e que representa alguns dos traços e dos instrumentos essenciais da propaganda, tal como se configurou nas primeiras décadas daquele século XX – ainda que nela figurem igualmente exemplos interessantes da iconografia da família real e da ditadura de Sidónio e, mesmo, do Estado Novo, sem esquecer alguns materiais oriundos de movimentos oposicionistas Neste âmbito, merecem referência algumas questões centrais: o uso crescente das novas técnicas fotográficas e de impressão; a introdução da propaganda política em áreas como a numismática ou a filatelia; o recurso frequente à sátira, já utilizada durante a monarquia, mas que explode na vigência do regime republicano; a introdução de elementos propagandísticos em objetos de uso doméstico; a frequente produção de muitos desses materiais por iniciativa de personalidades, empresas e coletividades; a utilização de imagens dos principais líderes republicanos enquanto propaganda e, mais tade, visando a estabilização da imagem pública do novo poder; e o carácter essencialmente iconográfico de todos estes instrumentos de agitação e propaganda, concebidos à medida de uma população com uma taxa de analfabetismo superior a 75%.
Sendo esta coleção complexa e temporalmente muito diversificada, optou-se pela sua organização temática, em que cada tema reúne espécies em diferentes suportes. Cremos, deste modo, contribuir para melhor transmitir a própria natureza da propaganda e da iconografia da época, quer nos finais da monarquia, quer após a implantação do regime republicano. Na verdade, imagens similares eram, com frequência, utilizadas em diferentes suportes e mesmo em diferentes épocas.
A coleção inicia-se, assim, pelo momento fundador da República e pelos seus principais símbolos (os bustos e a bandeira nacional). Depois, apresenta-se a iconografia de divulgação dos principais dirigentes republicanos e os materiais de propaganda, incluindo alguns posteriores à queda da República. Seguem-se a iconografia relacionada com a I Guerra Mundial e abundantes ilustrações de sátira política e social. Finalmente, em função da natureza dos respetivos suportes, encontram-se as espécies numismáticas, medalhísticas e filatélicas. Esta organização permite mostrar na sua plenitude uma coleção que, pelas suas próprias características, dificilmente se conteria numa estrita organização cronológica ou tipológica.
Fundação Mário Soares e Maria BarrosoHistoriador e professor.
Filho do advogado e pintor Arlindo Vicente, que foi perseguido e preso pelo regime de Salazar, na sequência da candidatura à Presidência da República.
Colecionador de iconografia republicana e de equipamento fotográfico, desde a juventude.
Doutorou-se em História na Universidade de Paris-Nanterre (1974).
Professor Catedrático aposentado da Universidade Nova de Lisboa (UNL), Académico de Número da Academia Portuguesa de História e sócio correspondente de várias academias internacionais, incluindo a Real Academia de História de Espanha. Investigador Emérito do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL.
Entre as obras publicadas, destacam-se os estudos sobre a história portuguesa do século XIX e as suas relações com Espanha, França e Inglaterra, sobre a História da Fotografia, e sobre a Primeira República.
Foi galardoado com o Prémio Calouste Gulbenkian de História, concedido pela Academia Portuguesa da História (2001) e condecorado pela Presidência da República com a Comenda da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada (2015).
30 unidades de instalação
Integralmente tratado