O acervo Jacinto Simões engloba documentação relacionada com a oposição à Ditadura Militar e ao Estado Novo, em que colaboraram tanto Jacinto Simões (pai) (1886-1958), como o filho (José Jacinto de Sousa Gonçalves Simões, 1925-2010), médico que ficou conhecido pelo mesmo nome do pai. Ambos republicanos convictos, participaram em movimentos como o MUNAF e o MUD e nas campanhas eleitorais decorridas durante o Estado Novo nas décadas de 1940 e 1950, apoiando os candidatos da oposição.
Fundação Mário Soares e Maria BarrosoJosé Jacinto de Sousa Gonçalves Simões (filho), nasceu em Lisboa, a 1 de novembro de 1925.
Após completar os estudos liceais, em 1943, ingressou na Faculdade de Medicina de Lisboa tendo concluído a Licenciatura, em 1949, com 18 valores.
Seguindo as passadas do pai, figura destacada da República, despertou muito cedo para a política tendo sido um dos fundadores do MUD Juvenil em 1945. No início de 1946, participou também na fundação da Juventude Socialista Portuguesa, fazendo parte do seu diretório inicial.
Colaborou ainda na revista Seara Nova e, em 1949, apoiou a candidatura de Norton de Matos à Presidência da República.
Privou com Mário de Azevedo Gomes, Bento de Jesus Caraça, António Sérgio, Câmara Reis, Jaime Cortesão, tornando-se um frequentador e organizador de tertúlias e, durante muitos anos, recebeu semanalmente na sua casa de Linda-a-Velha, muitas das principais figuras inteletuais e artísticas do país.
Foi também um membro do Grande Oriente Lusitano, tendo entrado para a maçonaria em 1952 pela mão de Vasconcelos Frazão, assistente do médico Luís Hernâni Dias Amado.
Dedicou-se de corpo e alma à sua carreira médica, tendo sido médico dos Hospitais Civis e diretor clínico do Hospital de Santa Cruz. Foi pioneiro no tratamento da insuficiência renal, por hemodiálise e transplante em Portugal, e dirigiu durante longos anos o serviço de Nefrologia do Hospital de Santa Cruz. Paralelamente foi professor universitário, obtendo o seu doutoramento na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, onde se jubilou como professor catedrático convidado.
Desenvolveu ainda atividade literária no campo do ensaio e da poesia, publicando alguns livros de poemas como Latitudes (1999), Recaídas (2001) e Poemas Imprevistos (2003).
Morreu a 7 de novembro de 2010.
Jacinto Simões (pai), nasceu na Figueira da Foz, a 7 de novembro de 1886.
Foi oficial miliciano e licenciou-se em Direito, em 1920. Republicano desde cedo, integrou as forças que combateram a revolta monárquica de 1919. Entre 1921 e 1926 desempenhou as funções de administrador do Porto de Lisboa.
Opôs-se à Ditadura Militar, instaurada em 1926, e foi preso após ter participado na organização do movimento revolucionário do batalhão de Caçadores n.º 7, conhecido como a “Revolta do Castelo”, ocorrido a 21 de julho de 1928, e posteriormente deportado para Angola.
Fugiu para França e esteve exilado durante alguns anos em Paris, ali convivendo com outros resistentes à ditadura que por lá passaram, como Raul Proença, Jaime Cortesão e António Sérgio. Durante a sua estadia na capital francesa frequentou os cursos livres de Sociologia, Filosofia e Direito Público na Sorbonne.
Depois do seu regresso a Portugal, Jacinto Simões fez parte da Comissão executiva do MUNAF, movimento de oposição fundado em 1943, e participou na constituição do MUD em 1945, fazendo parte da sua Comissão Central.
Após a campanha eleitoral de Norton de Matos à Presidência da República, decidiu abandonar a política ativa, remetendo-se à vida profissional, nomeadamente à advocacia. No entanto, em 1958, ainda prestou o seu apoio à campanha do general Humberto Delgado para a Presidência.
Colaborou em várias publicações, como a Seara Nova, O Povo de Viana de Castelo e A Luta.
Morreu em Lisboa, a 12 de novembro de 1958.
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