O arquivo do artista plástico moçambicano Malangatana reúne documentação de índole política e cívica, uma coleção de fotografias e documentação pessoal. Contém documentos relacionados com a Comissão Nacional de Aldeias Comunais, de Nampula, Literatura, Teatro e Poesia, a Escolinha Vamos Brincar, agendas e cadernos de apontamentos diversos, entre os quais cadernos manuscritos com poemas, correspondência expedida e recebida, e documentação relacionada com a FRELIMO (grupos dinamizadores, comités do partido). Integra ainda este conjunto a reprodução de obras de arte que resultaram da sua atividade artística e que fazem parte da sua coleção particular, cujos herdeiros se fazem representar através da Fundação Malangatana.
Fundação Mário Soares e Maria BarrosoMalangatana Valente NgwenyaArtista plástico.
Malangatana Valente Ngwenya nasceu em Matalana, distrito de Marracuene, província de Maputo, a 6 de junho de 1936. Filho de Manguiza Ngwenya e de Hloayze Xerinda. Casou com Gelita Mhangwana em 1956.
Frequentou a Escola da Missão Suíça em Matalana, onde aprendeu a ler e escrever em ronga. Encerrada a escola protestante, por efeito do Acordo Missionário de 1940, transita para a Escola da Missão Católica em Bulázi, onde concluiu a terceira classe rudimentar, em 1948. Seguiu depois para Lourenço Marques, onde trabalhou como criado de crianças e depois como “apanha-bolas” e criado de mesa no Clube de Ténis da cidade.
A partir de 1959, Malangatana enveredou pela carreira de pintor profissional, com o apoio de Augusto Cabral e do arquiteto português Miranda Guedes (Pancho), que lhe cedeu a garagem para atelier e lhe adquiriu dois quadros por mês, para que se pudesse manter.
A 10 de abril de 1961, Malangatana organizou a sua primeira exposição individual em Lourenço Marques, no Banco Nacional Ultramarino.
Após o início da luta armada em Moçambique, Malangatana juntou-se à rede clandestina da FRELIMO. Em 22 de dezembro de 1964, fugiu para a Suazilândia, regressando a Lourenço Marques a 1 de janeiro, tendo sido capturado pela PIDE três dias depois. Julgado em Tribunal Militar, foi absolvido a 23 de março de 1966, sendo de novo preso a 17 de junho desse ano e posteriormente restituído à liberdade a 11 de novembro.
Foi frequentador assíduo do Núcleo de Arte, onde expôs diversas obras, de cariz eminentemente social. Em 1968 realizou um dos quadros politicamente mais empenhados e que esteve exposto no Núcleo de Arte, com o título de “25 de Setembro”, data de início da luta armada em Moçambique – o que levou a PIDE/DGS a interrogá-lo em 1971 sobre o significado dessa obra.
Em 1971, recebeu uma bolsa “para a metrópole” da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo sido mandado reter no aeroporto por despacho do Ministro do Ultramar, posteriormente revogado.
Em Lisboa, Malangatana trabalhou na Gravura – Sociedade Cooperativa dos Gravadores Portugueses e na Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego.
Regressado a Moçambique, organizou, em 1972, uma exposição individual na COOP – Lourenço Marques, inaugurada pelo Governador-Geral Manuel Pimentel dos Santos.
No mesmo ano, tornou-se conhecido e apreciado em Lisboa, designadamente através das exposições organizadas por Rui Mário Gonçalves na Livraria Bucholz e na Sociedade Nacional de Belas Artes.
A convite de amigos, deslocou-se no ano seguinte à Suíça, o que lhe permitiu contactos com galerias e artistas, abrindo-lhe novos horizontes.
Com a independência de Moçambique, Malangatana envolveu-se diretamente na atividade política, participando em ações de mobilização e alfabetização e, a partir de 1978, na organização das aldeias comunais na Província de Nampula.
Desenvolveu intensa atividade no âmbito do Grupo Dinamizador do Bairro do Aeroporto, onde residiu, e participou em múltiplas atividades cívicas e sociais.
Eleito deputado em 1990 nas listas da FRELIMO, foi escolhido em 1998 para a Assembleia Municipal de Maputo, e reeleito em 2003.
A partir da década de 1980, desenvolveu novas técnicas e assumiu novos modos de expressão artística. Interveio também na organização da Escolinha dominical Vamos Brincar, promovida pela UNICEF e participou na Suécia, em 1987, em atividades similares com crianças suecas e refugiados de diversos países.
Terminada a guerra civil, em 1992, retomou um projeto cultural que impulsionara na sua aldeia de Matalana, criando a Associação do Centro Cultural de Matalana.
A sua obra tem sido reconhecida em todo o mundo, participando em múltiplas exposições coletivas e individuais.
Homem multifacetado, pintor, ceramista, cantor, ator, dançarino, foi presença assídua em numerosos festivais, afirmando sempre a sua origem africana e moçambicana.
Morreu a 5 de janeiro de 2011, em Matosinhos.
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