Este arquivo constitui uma amostra do percurso da Casa dos Estudantes do Império, e possibilita uma breve visão do universo humano que a compunha, a natureza e impacto das suas atividades, as relações estabelecidas com o mundo exterior como o movimento estudantil, o processo de (re)descoberta dos seus territórios e culturas de origem, e a importância do seu legado histórico.
Ao longo da sua existência, a Casa foi alvo de rusgas e apreensões de documentos sendo encerrada em setembro de 1965 pela polícia política. Tanto na sede da CEI em Lisboa como na Delegação de Coimbra, os seus pertences foram confiscados pela PIDE que selou os locais onde funcionava a CEI.
Até 1974, esse acervo foi depositado no forte de Caxias, depois do que ficou à guarda da Comissão de Extinção da PIDE-DGS.
Poucos são os materiais que foi possível reunir: fotografias, publicações periódicas, livros, documentos da associação e pouco mais. Além daqueles que foram eventualmente destruídos, muitos continuam na posse de antigos associados, outros foram depositados em arquivos públicos como o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, a Biblioteca Nacional de Portugal, a Hemeroteca Municipal de Lisboa, o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, a Imagoteca da Câmara Municipal de Coimbra, o Centro de Documentação e Informação Amílcar Cabral – CIDAC e o Gabinete de Estudos Sociais do Partido Comunista Português em Lisboa.
Finalmente uma parte do acervo foi depositado na Fundação Mário Soares e Maria Barroso, em 29 de fevereiro de 2016.
Este conjunto compreende documentos produzidos durante o período de funcionamento da CEI, guardada pelos sócios que a doaram posteriormente para integrar o arquivo, e documentação diversa sobre a CEI, produzida e reunida posteriormente.
A criação da Casa dos Estudantes do Império (1944-1965) foi sugerida pelo ministro das Colónias e apoiada pela Mocidade Portuguesa, para reunir numa só associação os jovens “ultramarinos” a estudar na metrópole. Além da sede em Lisboa e da delegação de Coimbra, houve uma tardia e efémera delegação no Porto. A Casa cedo subverteu as expectativas oficiais de um corpo obediente e alinhado com a ideologia imperial. Se o grupo fundador tinha simpatia do e pelo regime, a maioria dos elementos das direções eleitas que se seguiram contestou a ditadura e o colonialismo. Pela Casa (ou melhor: pelas Casas) passaram jovens de várias proveniências geográficas, diferentes origens sociais, culturais e económicas, e com diversas posições político-ideológicas. Juntos defenderam a liberdade e a independência da Casa num país fascista. Muitos deles viriam a participar nas lutas de libertação nacional, alguns dos quais em posições de destaque como militantes e dirigentes, outros como participantes na construção dos novos países africanos independentes. Em Lisboa, Coimbra e Porto, universidades e institutos foram frequentados por jovens provenientes do então império colonial, onde tais instituições eram inexistentes. Graças ao intenso convívio diário entre os sócios, a ambivalência identitária de uns foi sendo clarificada, permitindo a muitos jovens reencontrar-se e projetar o seu futuro individual e coletivo.
A história da CEI decorreu entre as contradições entre o projeto oficial que presidiu à criação da CEI e a dinâmica interna que conduziu ao afastamento da Casa dos propósitos enunciados pelo Estado Novo; paralelamente, foram surgindo distintos processos de consciencialização cultural e política e de crescente contestação do sistema colonial, em consonância com o movimento que emerge no rescaldo da II Guerra Mundial e se estende até aos anos de 1960, de afirmação dos nacionalismos asiáticos e africanos.
A Casa foi um pequeno farol de liberdade e solidariedade, um nó numa vasta rede de agentes, ideias, instituições e movimentos transnacionais de resistência ao colonialismo, uma imprevista antecâmara de independências futuras.
Foi encerrada pela PIDE em setembro de 1965.
13 unidades de instalação
Parcialmente tratado