O arquivo de Manuel Maria Sarmento Rodrigues situa-se entre as datas limites de 1835 e 1977, embora a maior parte dos documentos se relacionem com a sua carreira política (1945 a 1964), tendo sido produzidos no contexto dos cargos que ocupou como governador da Guiné e Moçambique e como ministro das Colónias/ministro do Ultramar.
Composto por um conjunto de correspondência recebida por Sarmento Rodrigues, incidindo na política colonial do Estado Novo e no percurso militar e político do seu detentor. Predomina a correspondência da década de 1950, em particular do período em que Sarmento Rodrigues ocupou o cargo de ministro das Colónias e depois do Ultramar, embora seja de destacar igualmente o período em que este foi governador da Guiné. Saliente-se a existência, neste conjunto epistolar, de várias cartas de Oliveira Salazar, bem como do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Cunha, e do ministro do Ultramar, Raul Ventura (que sucedeu nesta pasta a Sarmento Rodrigues).
Faz ainda parte deste conjunto uma série de álbuns fotográficos, entre os quais os álbuns publicados pela Agência Geral das Colónias relativos às viagens presidenciais realizadas entre julho e agosto de 1938 (São Tomé e Príncipe e Angola) e entre junho e setembro de 1939 (Cabo Verde, São Tomé, Moçambique e Angola, assim como a visita do chefe de Estado à União Sul Africana).
A coleção de imprensa constante deste arquivo contém, para além de títulos de imprensa diversos (avulsos, coleções e encadernações), 12 dossiers de recortes respeitantes ao governador geral de Moçambique, Sarmento Rodrigues, e ao ministro do Ultramar, Adriano Moreira (de julho de 1961 a junho de 1964).
Encontram-se ainda reunidos neste arquivo um conjunto de manuscritos e cópias de discursos, conferências e palestras proferidos por Sarmento Rodrigues no contexto da sua vida pública e atividade profissional, política e cultural, bem como no de outros cargos e missões, datados entre 1949 e 1977, e publicações diversas.
Fundação Mário Soares e Maria BarrosoMilitar e ministro do Ultramar.
Manuel Maria Sarmento Rodrigues, natural de Freixo de Espada à Cinta, nasceu a 15 de junho de 1899.
Frequentou o Liceu de Bragança e, posteriormente, os estudos preparatórios para oficial de Marinha na Universidade de Coimbra. Ingressou de seguida na Escola Naval, concluindo o curso de Marinha em 1921.
A sua carreira de oficial, que culminará no posto de contra-almirante em 1978, desenvolveu-se essencialmente na área colonial, em que adquiriu vasta experiência e conhecimento que marcaram a sua ação política e administrativa.
Logo nos primeiros anos de vida militar, destacou-se em diversos cargos e funções. Acabado o curso, seguiu no cruzador República para os Açores e, no ano seguinte, fez parte da viagem de apoio à travessia aérea do Atlântico Sul por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.
Em 1925 foi ajudante de campo do Governador Geral da Índia. Em 1928 foi Secretário de Estado do Ministro dos Negócios Estrangeiros Quintão Meireles.
Quando foi promovido a 1.º tenente, em 1931, foi nomeado capitão do Porto de Chinde, em Moçambique, sendo transferido em 1935 para o posto de Quelimane. Na sua estadia em Moçambique desenvolveu diversas missões de reconhecimento hidrográfico.
Frequentou a Escola de Guerra (1937) e entrou para o Estado Maior Naval, sendo, em 1939, promovido a capitão-tenente e a chefe do Estado Maior da Esquadrilha de Contratorpedeiros.
Frequentou a Escola Superior Colonial (renomeada mais tarde para Instituto Superior de Estudos Ultramarinos) entre 1940 e 1942, instituição onde viria também a lecionar em diversos anos.
Entre 1941 e 1945, no decurso da II Guerra Mundial, comandou o contratorpedeiro Lima, desenvolvendo várias operações de salvamento de navios nos mares dos Açores, que conhecia profundamente de várias outras missões anteriores, como a Missão Hidrográfica das Ilhas Adjacentes que fez o levantamento dos mares dos Açores e Madeira.
Membro de uma tendência conservadora liberal e maçónica que apoiou o Estado Novo, foi considerado um homem de “esquerda” dentro do regime. Foi proposto por Marcelo Caetano para o cargo de Governador da Guiné, o qual exerceu entre 1945 e 1949, onde desenvolveu extenso trabalho na organização do território e impulsionou os estudos relacionados com a Guiné e a África Ocidental, criando, em colaboração com Avelino Teixeira da Mota, o Centro de Estudos da Guiné.
Em 1949 foi eleito deputado à Assembleia Nacional, representando o círculo de Moçambique nas V, VI e VII legislaturas, entre 1949 e 1961, embora com o mandato suspenso em algumas sessões legislativas, devido à ocupação de cargos no governo.
Em 1950 foi convidado para assumir a pasta do Ministério das Colónias, depois titulada de Ministério do Ultramar, na sequência da reforma administrativa de 1951. Como ministro e conhecedor do Extremo Oriente e África, implementou uma vasta reforma do sistema de administração colonial. Remonta ao seu mandato o início do desenvolvimento do I Plano de Fomento, que decorreu de 1953 a 1958. Durante o seu ministério realizou também uma viagem ao Oriente, visitando a Índia, Macau e Timor, em 1952.
Ao longo da sua carreira, Sarmento Rodrigues fez parte de diversas instituições internacionais, como o Instituto Internacional de Civilizações Diferentes a que presidiu em 1956. Foi vice-presidente do Congresso Internacional para a Coordenação das Pesquisas Científicas em África em 1958 e participou em diversas conferências e congressos no domínio dos estudos e desenvolvimento colonial.
Um dos últimos cargos de relevo que desempenhou foi o de Governador Geral de Moçambique, entre 1961 e 1964.
Ao longo da vida, publicou várias obras sobre assuntos navais e de administração colonial. Depois de reformado continuou a desenvolver a sua atividade de investigação histórica e social, e foi o primeiro presidente da Academia de Marinha.
Morreu em Lisboa, a 1 de agosto de 1979.
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