Coleção completa do jornal Combate (nº 1 a 51).
Fundação Mário Soares e Maria BarrosoA criação do jornal Combate deveu-se originariamente a três membros (João Bernardo Viegas Soares, Rita Delgado e João Crisóstomo) de um antigo grupo clandestino marxista-Ieninista, os Comités Comunistas Revolucionários (CCRs), que resultara de uma cisão ocorrida em 1969 numa organização maoísta, o Comité Marxista-Leninista Português. A partir de 1972 alguns membros dos CCRs começaram a criticar o maoísmo e o modelo organizacional leninista, cindindo dos CCRs em abril de 1974. O primeiro número do Combate, junto com o Manifesto inaugural, data de 21 de junho de 1974, e o último, n° 51, data de fevereiro de 1978.
“O objectivo era produzir um jornal não-doutrinário que relatasse as ocupações e as experiências de autogestão. Equipas de colaboradores deslocavam-se a todo o país para entrevistar membros das Comissões de Trabalhadores e das Comissões de Moradores, frequentemente entrevistando também trabalhadores de base, e as declarações eram registadas e publicadas na íntegra.”
“O Combate não tinha membros profissionais, e qualquer pessoa podia colaborar desde que estivesse de acordo com os princípios gerais do Manifesto. As tarefas eram distribuídas igualmente entre todos e não existiam cargos directivos; o nome do director, que aparece no cabeçalho do jornal, era fictício e destinava-se unicamente a cumprir um preceito legal. Quem quer que estivesse presente nas reuniões podia dar a sua opinião, e podia votar com a condição de se encarregar de uma tarefa. Se bem que existisse um grupo estável de colaboradores, que se reunia pelo menos uma vez por semana, havia outros que colaboravam só esporadicamente ou que estavam presentes quando se discutiam certas lutas. Existia um grupo no sul (em Lisboa) e outro no norte (no Porto).”
“A verdadeira dicotomia no movimento operário daquela época era a cisão entre as Comissões de Trabalhadores e os sindicatos. Os sindicatos pouco mais eram do que um elo de ligação entre patrões e trabalhadores. Em 1974 existiam cerca de 4000 sindicatos espalhados por todo o país, organizados por profissões e totalmente desacreditados em virtude da sua anterior relação com o regime fascista. Na Lisnave (estaleiros de construção naval) havia 13 sindicatos, na Mabor (fábrica de pneus) havia 23, na TAP (companhia aérea) havia 15. Os únicos sindicatos "fortes" eram o dos funcionários bancários, que no 1° de Maio de 1973 tentara organizar uma manifestação em Lisboa, e o dos assalariados agrícolas, que formavam o eixo da Intersindical, dirigida pelo Partido Comunista. A resposta imediata dos trabalhadores foi a convocação de plenários que elegeram Comissões de Trabalhadores, representantes da base. Em Outubro de 1974 havia 2000 Comissões, difundidas por todo o sistema económico.”
“No ponto de vista do Combate, a cisão fundamental na sociedade portuguesa após o 25 de Abril de 1974 opunha, de um lado, as várias modalidades de capitalismo de Estado e, do outro, as tentativas de reforçar o poder directo dos trabalhadores de base, sem recorrer para isso ao aparelho de Estado e desenvolvendo a autonomia organizativa e a autogestão económica. É claro que o verdadeiro poder era detido pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), responsável pelo golpe de 1974, e desde o início as forças políticas tentaram obter o controlo desta instituição.”
“A queda do movimento operário levou também à queda do jornal, no meio das recriminações internas que são comuns em tais circunstâncias e com alguma (não demasiada) amargura. Com o fim do Combate, cada um dos colaboradores seguiu caminhos diferentes.”
Nota: Citações extraídas do documento de análise datado de julho 2006 e assinado por João Bernardo, José Elísio Meio e Silva, José Paulo Serralheiro, Phil Mailer e Rita Delgado.
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